sábado, 20 de novembro de 2010

Admirável mundo novo

Ao nascer te "educam" e vão te ensinando coisas normais.
Vão te contando historinhas sobre pessoas e coisas que nunca existiram nem vão existir. Inventam personagens e fatos fantasiosos, como Peter Pan, Robin hood, Chapeuzinho Vermelho, Papai Noel...
Aos poucos outras histórias são contadas. Você precisa ir à igreja pra seguir normal como todos, se batizar e confessar ao honrado padre que aos 9 anos você tirou meleca do nariz na frente de seus amiguinhos. Mas não faça nada do que o padre ou pastor diz, aquilo que o cara fez na bíblia foi há muito tempo. Além disso, você paga e não precisa agir mais. Há quem faça por você. E digo mais, nem ouse ir a outra religião qualquer. Eles lá não sabem de nada e contam historinhas mentirosas.
Você vai para a escola e as histórias agora são sobre seu país e seu povo. É preciso aprender desde cedo como seu exército e sua polícia são fortes para defender vocês das pessoas más como índios, negros, muçulmanos, favelados, imigrantes e anarquistas. É preciso acabar com essa raça toda.
Chegou a hora de votar. Isto é tudo que você tem que se meter na politica. Se roubarem seu povo, deixe que os jornais vão investigar tudo e descobrir que você se interessa mais no papo de futebol e a vida dos famosos que é como a sua tem que ser.. aos poucos a gente vai diminuindo aquele assunto do roubo dos políticos. Mas se você não se satisfaz e quer saber o que aconteceu com o dinheiro de seu povo, a riqueza de seu país, se você vai protestar, aí não tem como, né.. a gente tem que botar nossos heróis pra trabalhar, vamos lá comandantes e cavalos (e vice-versa) pra cima desses desordeiros, vamos defender nosso país de vagabundos como esses. Nossos políticos não são ladrões coisa nenhuma. São eles que pagam nosso salário, que decidem o preço da nossa casa, do pão, do leite, das drogas, que decidem quem morre de quê. Eu diria que eles são deuses, por isso não devemos nunca deixar de acreditar neles e sempre depositar nosso voto de confiança, um dia, quem sabe, vai aparecer um igual àquelas historinhas que nos contam.
Não é mais tempo de dar uma de robin hood, ou peter pan.
Você bota na cabeça que precisa casar para mostrar que é normal e feliz.
Depois de casado, você precisa mostrar a seus amigos que tem suas amantes pra provar que é normal. Vá trabalhar e cresça na vida. Seja uma pessoa boa, honesta e comovida. Caminhe para a morte pensando em vencer na vida. Estude para ser um médico ou advogado, é o que há de mais rentável. E você nem precisa saber direito o que tá fazendo, seu cliente não sabe de nada mesmo.
Agora você tem uma casa e um carro. Parabéns. Precisávamos mesmo de mais um consumidor.
Você já pode contratar mais serviços que prestamos a preços acessíveis, como segurança, saúde, educação, você não vai querer seu filho descuidado né.
Vejam a propagando como valoriza a liberdade. Isso é o que há de mais precioso para nós e temos que defender isso a todo custo. A liberdade para as empresas fazerem o que quiserem, isto é democracia. Você também tem que ser livre, compre o que quiser. Isto é tudo que temos a oferecer sobre liberdade. Agora prenda-se em sua casa e ligue sua tv.
Tá vendo aquele moleque tendo um ataque de crack no meio da rua? Não, né? Não se preocupe, ninguém vê. Isso é problema do estado e dos usuários de droga que financiam isto. Você não tem culpa de nada.
Tá vendo aquela reserva florestal que tem a cura pra metade de nossas doenças? Quer dizer, tinha, porque acabaram de liberar a destruição para mais uma de nossas maravilhas industriais despejar seu esgoto e fumaça tóxica. Isso não é problema seu.
Se por um acaso você se sensibilizar, não aja. Conheça uma de nossas empresas que faz tudo por você. Inclusive aceitamos cartão de crédito. Vejam como é cômodo. Deus abençoe o capetalismo.

"E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial e está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social." (Ouro de Tolo - Raul Seixas)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Gentileza gera gentileza


Eu pensava em escrever algo sobre o Profeta Gentileza, quando recentemente presenciei uma situação no mínimo revoltante:
Um motorista de um carro luxuoso, que, como muitos, se achando dono do trânsito, quase atropela um pedestre. O pedestre consegue se desviar e pede para que ele tenha mais atenção pois por pouco não o atropelou. O motorista além de não ter o mínimo de atenção para com o outro, ainda o xingou e disse que não tinha satisfações a lhe dar, isto com um bastão em punho ameaçando bater nele.
A resposta do pedestre que mesmo pleno de direitos foi a seguinte:
-Satisfações o senhor não me deve. Mas deve respeito, pois sou um cidadão tanto como o senhor e se hoje o senhor está de carro amanhã pode estar andando por uma calçada.

Fiquei impressionado com a firmeza, educação e ainda respeito do pedestre àquele que poderia mesmo lhe ter tirado a vida.

Na hora me veio à mente o Profeta Gentileza. Primeiro soube da história deste cidadão, que por muitos já foi xingado e mal visto, através de uma música: "Gentileza", de Marisa Monte. Depois ouvi uma outra homenagem composta por Gonzaguinha alguns anos antes.
Eu ia contar a história de um homem que foi visto como maluco e que tornou-se famoso por abdicar de tudo pra propagar mensagens de amor, perdão e respeito pelas ruas de grandes cidades brasileiras. Mas isto já foi feito. Resolvi contar uma história de um homem comum, que por um momento de maluquez resolveu fazer sua parte sin perder la ternura, mesmo diante da adversidade.
Provavelmente aquele motorista não vai mudar seu comportamento pela forma como foi abordado. Mas não era ele quem tinha que agir naquele momento. E sim aquele que sabia que tinha que agir naquele momento.


Para saber mais sobre o Profeta Gentileza:http://oimpressionista.wordpress.com/museu-virtual-gentileza/
http://parararoseloucos.blogspot.com/2008/06/o-proferta-da-gentileza-e-o-menino-do.html
http://lagrimasetormentos.blogspot.com/2007/12/o-profeta-gentileza.html
http://riocomgentileza.com.br/

No portal de Curtas da Petrobras digite a palavra "gentileza" em busca e aparecem alguns curta-metragens sobre o Profeta.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Na estrada

BR-101. Dia 7 do mês 7.

Mais um dia de correria abafado. Pra desabafar, uma multidão vindo de encontro a mim enquanto espero pelo ônibus com uma pasta vermelha cheia de documentos a serem assinados e carimbados do outro lado da cidade. Vieram aos poucos, de longe pareciam uns trinta, mas se passaram trinta minutos e ainda não tinham todos eles atravessado meu caminho.

Era um protesto de trabalhadores rurais.

O tráfego piora, meu ônibus atrasa, o cartório fecha às 17 horas.

Fico pensando "onde pego outro ônibus".

Enquanto penso, outros falam. Um senhor vem passando e diz "bando de desocupado e vagabundo" e olha pra mim como quem pede aprovação para o que acaba de dizer. Eu olho pro lado pra ver se tinha mais alguém. Não, era comigo mesmo. Bem.. não sabia bem de quem exatamente ele falava, espero que não tenha sido pra mim, porque se eu encontrá-lo qualquer dia ele vai ver quem é desocupado.

Não lembro bem o que respondi, mas foi algo "ah, vai se catar véi gagá desocupado e vagabundo".

Não sei se alguém lê pensamentos no meio daquela gente toda e percebeu que eu não concordei muito com os xingamentos do senhor que passava no meio da multidão, ou se foi aquela minha pasta vermelha que me dava um ar de organizador de passeatas.

Eu sei que há muito tempo não me deparava com tantas pessoas me olhando nos olhos ao mesmo tempo, todos que passavam olhavam pra mim que olhava até onde ia aquela multidão esperando que ao fim viesse meu ônibus. Foi mesmo impressionante. Ideologias e programas políticos à parte, aquelas verdadeiras caras pintadas de bronze pelo sol do dia-a-dia demonstravam uma necessidade de compreensão e de alguém de fora de suas terras fora do comum. Alguns passavam e acenavam. Outros olhavam com medo. Outros com raiva. Outros com amor. Outros com dúvidas.

Ainda não sei bem por que eles protestavam, se é que protestavam. Talvez fosse alguém que também percebeu que esse povo necessitava de compreensão e aproveitou pra promover seu futuro político juntando eles como os bois de suas fazendas e se lançando como candidato a qualquer cargo.

Não sei.

Foi rápido. Consegui chegar a tempo aonde precisava. Resolvi tudo. Não encontrei o véi gagá de novo.

Ninguém saiu prejudicado. Nem o individual nem o coletivo. A não ser o motorista de ônibus que deve ter atrasado o horário previsto. É um risco que se corre quando quer ser motorista num mundo desgovernado.






Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o ultimo instante seu direito de dizê-la.
(Voltaire)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Calado

Há cerca de um ano, um grande amigo meu deixou este mundo. Não que ele fosse astronauta. Mas com certeza foi um homem que viveria em qualquer lugar do universo.
Fico impressionado como determinadas pessoas vêm ao mundo e são capazes de atrair tanta bondade para si. Meu amigo não era nenhum famoso, mas viveu em sua comunidade como um pai para muitos que lhe pediam a mão. Inclusive meus pais há muito tempo atrás precisaram dele, em um momento difícil do início do relacionamento. Esse meu amigo viria a se tornar o padrinho de casamento deles, entre muitos outros. Nossa diferença de idade era de cerca de 50 anos, entretanto sempre tive uma admiração muito grande por ele. Foi ele quem me botou um dos meus vários apelidos: "Calado". Até hoje me lembro com alegria quando alguns me chamam assim, graças a ele.
A música era sua aliada e seus dedos percorriam o violão como se estivesse botando um filho pra dormir.
Pouco tempo antes de morrer ele esteve hospedado em minha casa e eu ficava conversando com ele. Desta vez eu falava mais do que ele, ao contrário de antes, até por suas limitações. Eu observava-o triste por imaginar e pensar em não sei o quê. Só um dia saberei.
E depois de conversas e choros, perguntei-lhe se queria ouvir músicas. E ele de pronto enxugou as lágrimas e sorriu dizendo: "Quero, Calado."
Pus um CD que eu havia comprado aquela semana pensando nele: Noite Ilustrada. Pronto, lá vem o choro de novo.
Eram lágrimas de alegria, de boas memórias, de bons sentimentos aos versos de Levanta sacode a poeira, dá a volta por cima.
No seu velório, algo de belo acontece, quando mais um de seus admiradores entra cantando o trecho de "Sabiá" de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

A todo mundo eu dou "Psiu" (Psiu! Psiu! Psiu!)
Perguntando por meu bem (Psiu! Psiu! Psiu!)
Tendo o coração vazio
Vivo assim a dar "Psiu"
Sabiá vem cá também...


Música que ele adorava cantar.

Deixou quatro filhos aos quais tenho como irmãos. E uma senhora feliz por tudo que ele fez por ela.

João Nogueira, compôs uma música em homenagem a Clara Nunes vinte dias após a morte dela (também compôs outra enquanto ela estava viva).
Toda vez que ouço essa música não tenho como não me lembrar de meu grande amigo.



Um Ser de Luz
(Composição: João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)

Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Sua voz então
Ao se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava
Espantava a dor
Com a força do seu cantar
Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
A gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de Vê-la, sabiá
Sabiá
Que falta faz tua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta, meu sabiá, voa, meu sabiá
Adeus, meu sabiá, até um dia

terça-feira, 18 de maio de 2010

Para Mim, "tudo é possível"

Monologando

- Andei pensando (consegui andar e pensar) sobre a inconstância da vida. Como sempre foi necessária a mudança para que a vida prosseguisse e fosse gerada. Tanto do ponto de vista micro (a vida singular), como macro (o universo, o planeta, etc) dentro das nossas escalas.

E já que o universo é das possibilidades, a mudança é uma delas. Aliás, a mais provável das possibilidades é que tudo esteja mudando agora mesmo, embora você não perceba.

Do ponto de vista mais simples, os seres vivos precisam estar mudando pra prosseguirem vivendo. Suas células precisam ser renovadas, seus ossos (se você for um vertebrado, claro) precisam aumentar de tamanho, etc. Se não, você está fadado a uma sub-vida, em diversos aspectos, sociais, biológicos, etc. Até a morte é um processo de mudança para dar continuidade à vida. Mesmo que você não queira seu corpo será transformado em nutrição para os vermes, mas para flores também.

Do ponto de vista mais universal, podemos pensar como seria se a Terra não tivesse deixado de ser aquela imensa bola de gás venenoso há bilhões de anos que as evidências apontam. "Hoje não teríamos tanta mazelas", você poderia dizer.
'Tá bom! Mas talvez não existisse.

- "Como assim, não existia o quê?"

- "Não existia o quê?" O verbo existir que eu saiba é intransitivo (confesso que fui conferir no dicionário), ou seja, não precisa de complemento. Eu existo. Tu existes. ElA existe (O que é muito bom). Nós existimos. Vós Existis. ElAs existem (O que é melhor ainda).

E quando algo existe, existe. Até o nada. O nada também existe. Não sei se é algo como a ausência de qualquer coisa. Não sei se é um vácuo, ou se é um buraco-negro. Do nada não entendo. Não entendo de nada. Mas acho que qualquer coisa o nada é. Enfim, reconheço que o nada existe. Em algum lugar ele está. Ou você nunca ouviu alguém dizer "fulano não tem nada cabeça". Isto significa que fulano poderia ter nada na cabeça, sacou? ;)
Mas se um dia você se encontrar no meio do nada. Apenas lembre-se que "nada também é possível de mudar". Ou melhor, tudo (inclusive o nada) é possível de mudar, pra ficar bem claro.



Lunático que sou.
- Essa viagem toda foi só por causa da frase que li vindo de alguém que admiro: "Nada é impossível de mudar"
- Algo inclusive parecido com aqueles slogans de igrejas "Para Deus nada é impossível".
Homens de pouca fé.

- Eu só queria que as pessoas pensassem na diferença que há entre "nada é impossível de mudar" e "tudo é possível de mudar".

Há uma diferença enorme entre essas duas afirmações. Eu acredito mais na primeira. Onde tudo é possível e tudo muda. Já sobre o nada, nada sei.

Mas que tudo é possível de mudar, isto é, inclusive o nada.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

13 de Maio

Corria o longínquo ano de 1888, quando nesta data Dona Isabel ("Bel" para os íntimos), meteu a caneta, ou melhor a pena no papel e disse que num tinha mais essa de escravidão aqui no Brasil. Boazinha ela, né? Sei não.. quase que não saía, depois de muitas outras leis é que decidiram abolir. Hoje, escravidão oficial não existe, mas a exclusão social a que se submete a maioria da população brasileira permanece, mas isso é pra outra história.
Em 1933, 45 anos depois, no mesmo 13 de Maio, nascia um baiano arretado: Waldick Soriano. Waldick era, como dizia Zé Geraldo,"gentil e sincero". Em 1978 ele lança um álbum chamado, adivinhem só, Quero ser teu escravo (rá!)

Acho, esta é a única escravidão à qual devemos nos submeter: ao amor.
Muito além do que a união a dois, Amor é algo muito amplo, que por mais que se tente explicar não há palavras para fazer isso. Aliás há várias palavras que dão o conceito de amor. Desde o ágape ao eros, acredito que o amor passa por dedicação àquilo ou àquela(e) que você ama.

Hoje, 13 de Maio de 2010, é noite de Lua Nova, e espero que as pessoas se renovem a cada dia, como a Lua, para que se libertem de seus medos e tenham coragem de procurar seu caminho e quem sabe deixar esta Terra sem se arrepender. Eu vou agora pra junto de minha nega. Até a próxima.


Qualquer dia desses vou descer as ruas
Vou entrar nos bares
Vou beber os mares
Pra criar coragem e te procurar
Vou pela Fradique cantando um bolero
Feito um Waldick gentil e sincero
Coração errante que só quer amar
Desço a Purpurina onde a tarde brilha
Sobre a minha sina sol e maravilha
Com o peito em brasa
Desejando brisa.
Na rua Harmonia escrevo um poema
O céu é um cinema
Quando finda o dia

Sou bailarino gira mundo
Poeta sem endereço
Assustado e vivido
Um menino encantado
Que sonha viver pra sempre
Na barra do seu vestido.